A defesa da Petrobras é um dos principais motes das manifestações
promovidas nesta sexta-feira pela CUT e seus aliados sociais. Deseja-se
defender a estatal contra a ação deles. Fala-se muito “deles”… deles…
deles.” Todo mal da Petrobras é culpa “deles”. A estatal está sendo
destruída por “eles”. Falta aos protestos alguém que tome de assalto o
megafone e grite uma singela pergunta: “Quem são eles?”
Manifestações em defesa da Petrobras90 fotos
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Muitos manifestantes talvez parem, travados. Quem são eles? Ora, eles
são os outros, esses seres impalpáveis, responsáveis por tudo. Eles
podem ser os corruptos, os corruptores, os neoliberais tucanos, o
capital financeiro internacional, o procurador Janot, a mídia golpista…
Eles são todos, menos a “esquerda'' e o “governo democrático e popular
do PT''.
Na Petrobras, o dinheiro saiu pelo ladrão porque os
ladrões entraram nos cofres da estatal. Quem abriu a porta do galinheiro
para os diretores indicados pelas raposas do PT, PMDB e PP foi Lula.
Quem vigiava o poleiro era Dilma Rousseff, então presidente do Conselho
de Administração da Petrobras.
Supremo paradoxo: em Salvador, José
Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, estrelou a manifestação
desta sexta-feira. Foi sob Gabrielli que a ação partidária na estatal
potencializou-se. Em fevereiro de 2012, Gabrielli falou sobre o fenômeno
no programa Roda Viva.
A
certa altura, perguntaram-lhe por que os políticos cobiçavam diretorias
da Petrobras. E Gabrielli: “Nós estamos numa democracia, meus senhores e
minhas senhoras. Numa democracia em que os partidos são legítimos, em
que os partidos representam o interesse do povo brasileiro. Ou vocês
querem negar o direito dos partidos?”
Democracia partidária na
Petrobras? “Vocês querem negar o direito dos partidos. A democracia
exige partidos. Muito mais importante ter partidos do que não ter, do
que ter uma ditadura.” Alguém lembrou a Gabrielli que ele presidia uma
estatal de capital aberto, com ações na Bolsa. Outro entrevistador
repetiu que havia gente indicada por Collor na companhia.
“O
senhor Collor de Mello é senador eleito”, justificou-se Gabrielli. “Eu
discordo da política dele, mas esse é outro problema. Ele é
legitimamente eleito.” Ante a insistência dos entrevistadores —qual é o
interesse dos partidos na Petrobras?—Gabrielli soou assim:
“Os
partidos participam da gestão do Estado. Isso é parte da prática
democrática. Isso é parte da democracia. Os partidos são legítimos. Nós
podemos discordar. Eu discordo. Você sabe que eu sou um homem de
partido. Eu discordo de alguns partidos, mas é legitima a existência dos
partidos. Querer que não existam partidos é autoritarismo. Pode ser um
déspota esclarecido, mas é um déspota.”
Nomeado sob Lula,
Gabrielli só foi substituído por Dilma em 2012, segundo ano de sua
primeira gestão. Saiu sob elogios pelos serviços prestados. Já nessa
época, o petista Gabrielli não era um bom exemplo. Pior: era um
extraordinário aviso. Não viu quem não quis. Agora responda rápido: quem
são eles?
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