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segunda-feira, 6 de abril de 2015

Um governo que não começou. São exatos 100 dias, completados na próxima sexta-feira, e a presidente Dilma Rousseff (PT) não conseguiu sair das cordas. A face mais visível da nova gestão nesses três primeiros meses, diante dos escândalos de corrupção que parecem não ter fim, é a paralisia. Pior: o desemprego bate na porta dos brasileiros e as projeções de crescimento para 2015 são as piores possíveis. O país do “governo novo, ideias novas”, vendido durante a campanha eleitoral, não conseguiu espantar o fantasma da inflação. Medidas impopulares foram tomadas diante da necessidade de ajuste urgente das contas.

Com o cinto mais apertado, as ruas, inflamadas pela oposição, já começaram a mandar o recado. A presidente também enfrenta dificuldades para convencer até os aliados. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) criticou os tarifaços de luz, de água e dos combustíveis.

No plano político, o diálogo com a outra metade do Brasil, prometido por Dilma em discurso logo após a divulgação do resultado da eleição, não aconteceu. A presidente “que não escuta ninguém” se isolou ainda mais. Diante das crescentes denúncias de corrupção, mergulhou logo no primeiro mês de sua segunda gestão. Saiu da toca em seguida, mas ainda não conseguiu colocar em prática o plano de recuperação de sua popularidade. Cientistas políticos ouvidos pelo Correio apontam que a presidente falhou ao escolher como principal interlocutor político alguém controverso como o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Alegam que falta articulação política para flexibilizar as importantes relações com o Congresso Nacional.

A falta de apetite político da presidente Dilma Rousseff foi explicitada, na opinião do cientista político e professor do Insper Carlos Melo, ainda durante o discurso proferido logo após a confirmação oficial da vitória nas eleições presidenciais de 2014. Segundo ele, em uma eleição apertada, decidida por uma diferença de apenas 3 milhões de votos, Dilma fez um discurso de diálogo nacional, mas, de maneira arrogante, não estendeu a mão para a oposição. “Se ela estivesse, de fato, disposta a recompor as pontes políticas, poderia, ao menos, ter citado o nome de Aécio Neves nas palavras em que comemorava a vitória”, disse Melo. “Ela não desceu do Olimpo”, criticou.

Para o professor do Insper, não há como criticar a presidente afirmando que ela tem conduzido mal a articulação política nesses três primeiros meses de governo, pois ela nunca tem essa ferramenta como característica. “O país vivendo as incertezas da crise econômica, Dilma demite Guido Mantega durante a campanha presidencial e demora uma eternidade para escolher Joaquim Levy como sucessor”, lembrou ele. Melo segue enumerando os erros. “Ela escolheu como principal interlocutor político alguém controverso como o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. E agregou a ele outros políticos de personalidade forte e pouca habilidade na articulação, como Miguel Rosseto na Secretaria-Geral”, criticou.

O ano virou e os equívocos se acumularam. A presidente não percebeu que poderia ser derrotada na disputa pela presidência da Câmara e resolveu comprar briga com o peemedebista Eduardo Cunha (RJ). “Você só encara uma briga desse tamanho se tiver condições de vencer. Perdeu e não soube mais recompor as relações”, disse Melo.

Ao contrário de outros analistas que celebraram a boa participação do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em audiência, na terça-feira passada, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Melo viu na atuação do comandante da equipe econômica mais uma prova da fragilidade política do Planalto. “Você viu um Levy implorando para que o Senado aprove o ajuste e não votasse o projeto do indexador das dívidas de estados e municípios”, citou o cientista político.

Um senador aliado, que estava presente à audiência de Levy na CAE, desabafou: “Destacar o que desses três primeiros meses de governo Dilma? Nada. O governo envelheceu antes da hora”, lamentou o petista. “Estamos nos engalfinhando em um emaranhado de problemas que parecem não ter fim.” Para esse aliado, Dilma conseguiu reverter a tradição política brasileira. “Temos um sistema presidencialista no qual a presidente não tem protagonismo político”, criticou.

SEM PACIÊNCIA
Para um prefeito de uma cidade nordestina, que julga ter bom relacionamento com a presidente, o grande problema é que ela não tem paciência com a política em si. “Ela não sabe quanto custa uma campanha, quanto é colocar um carro de som na rua, convencer um deputado e um prefeito a distribuir seu santinho. Por isso, não distribui afagos para a base aliada”, analisou o prefeito de um partido de esquerda.

Esse mesmo político resvala para uma comparação inevitável, mas sempre cruel: o estilo Dilma e o estilo Lula. “De repente, você estava numa rodinha e o celular tocava. Era o Lula para contar uma piada ou dizer uma besteira. Pronto, você tinha uma ligação do presidente em seu celular, virava fã e aliado incondicional”, exemplificou.

A falta de habilidade e a inação do governo levaram a presidente Dilma a derreter nas avaliações de popularidade. Na mais recente pesquisa de opinião, divulgada na última quarta-feira pela CNI-Ibope, ela apareceu com uma avaliação negativa de 64%. Em 15 de março, quase 2 milhões de pessoas foram às ruas pedir Fora Dilma, Lula e o PT. “Uma nova manifestação está prevista para 12 de abril”, lembrou o professor do Ibmec-RJ Alexandre Espírito Santo, destacando que, nas redes sociais, a convocação segue intensa.
Fonte:180graus

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