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segunda-feira, 8 de junho de 2015

Crônica - As mortes de Danielly: a vítima fatal do estupro coletivo em Castelo do Piauí

Texto: professor Orlando Berti*
O sonho da jovem Danielly Rodrigues Feitosa, nascida no dia 02 de dezembro de 1998, era ser médica. Ela não negava isso para ninguém. Inclusive já tinha confessado para amigas e parentes que no final do ano desejava morar em Teresina para estudar mais e ter mais caminhos para o sonho de cursar Medicina.

Danielly era uma das quatro garotas que no final da tarde do dia 27 de maio deste ano foram surpreendidas, violentadas, espancadas e arremessadas (como se joga um saco de lixo) de um penhasco na cidade de Castelo do Piauí, localizada a 199 quilômetros de Teresina.
Ela foi a que mais sofreu por ter sido a primeira a ser violentada, a que mais resistiu às sandices dos agressores (um maior de idade e quatro menores de idade – todos mais novos que ela). Foi a primeira a ser jogada. Por conta disso sofreu mais, amorteceu as outras três amigas, também vítimas das mesmas crueldades. Quebrou o crânio e o tórax em vários lugares, perdeu muito sangue. Ficou em coma.
Danielly era mais uma de tantas e tantos jovens do interior do Piauí que têm uma vida normal. Acordava todo dia, fazia atividades domésticas e ia para o colégio. Era estudante do terceiro ano do ensino médio na Unidade Escolar Francisco Sales Martins, no Centro da cidade de Castelo do Piauí.
Era filha de seu Jorge Moura, conhecido por Jorge da Baixada, e de dona Zefinha, dois comerciantes de Castelo do Piauí que mantém uma mercearia próxima de sua residência no bairro Baixada Beira Rio. Completava a família o estudante Diego, um ano mais velho que a jovem.
Mas Danielly não está mais viva. No início da noite deste domingo (07 de junho de 2015) ela se foi. Morreu lutando pela vida após ter passado 11 dias internada no Hospital de Urgência de Teresina. Passou por cinco cirurgias. Ficou na UTI em estado gravíssimo. Não respondia aos estímulos médicos, não mexia olhos, só respirava por aparelhos. Estava em estado crítico devido complicações em sua cabeça e tórax.
Seu corpo estava tão traumatizado de pancadas na cabeça e no corpo que a possibilidade de doação de órgãos não foi possível.
Essa foi a última de suas mortes. A penúltima delas foi quando caiu de um penhasco no Morro do Carro Velho, no limite das zonas urbana e rural de Castelo do Piauí. Antes disso já tinha morrido por não ter defesa contra seus agressores, todos acusados de estarem dopados com vários tipos de drogas (maconha, cocaína e crack – as mesmas encontradas tão facilmente em quase todas as esquinas, as mesmas que financiam vários esquemas ilegais, as mesmas que muitos acham “normal”).
Danielly também já tinha morrido porque, mesmo sendo uma estudante dedicada, uma filha obediente que vivia na barra dos pais, convivia em uma cidade que não tem delegado, um município que tem pouquíssimos policiais, em um lugar com poucas políticas públicas, uma cidade como tantas outras no Brasil em que uma pequena parcela da juventude aterroriza a maioria.
Ela morava a menos de 500 metros do acusado de ser um dos seus maiores algozes. Talvez o conhecesse até de vista. Talvez soubesse da fama do algoz, um garoto de 15 anos, com quase cem passagens pela polícia.
A garota gostava de futebol. Era membro da torcida feminina Fanáticas da Baixada, que acompanhava o Baixada Futebol Clube em vários pontos dos campeonatos amadores de Castelo do Piauí.
Chorando, e mais que triste por Danielly! Que outras não precisem morrer para que a sociedade (cujo qual eu e você participamos) reaja e veja que precisa, de maneira urgente, rever seus conceitos, rever seus amores, rever seus valores, rever quem está silenciado, rever sobre outros jovens que estão por aí cometendo crimes, rever sobre a impunidade, a corrupção. Tudo isso vinha matando Danielly há muito tempo.
Colaborou Jurandir Matos, da rádio Rádio Tropical de Castelo do Piauí e do site Camelo no Rádio.
* Orlando Berti é jornalista. Atualmente é professor, pesquisador e extensionista do curso de Comunicação Social – Jornalismo – da UESPI – Universidade Estadual do Piauí (campus de Teresina). É mestre e doutor em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (com doutorado-sanduíche na Universidad de Málaga – Espanha). Faz Pós-doutorado em Comunicação, Região e Cidadania na Universidade Metodista de São Paulo. Atualmente desenvolve pesquisa de etnografia das redações, tentando entender o jornalismo piauiense na prática e os fenômenos sociais contemporâneos. É vice-presidente da Rede Brasileira de Mídia Cidadã.

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