Nada mais natural do que esticar um produto que trouxe
retorno financeiro e prestígio para prolongar o sucesso. Foi exatamente isso o
que a Record fez com Os Dez Mandamentos, mas exagerou na dose. Na novela
faraônica, que finalmente acaba nesta segunda (23), o estica-e-puxa ficou
cansativo. A falta de "desacontecimentos" da história foi tão grande
que, após a travessia do Mar Vermelho, a produção passou a respirar por
aparelhos. O público percebeu. Nesta semana, a trama não superou a Globo em nenhum
dia no Ibope.
Antes, a novela bíblica enrolou como pôde para mostrar as
dez pragas que acometeram o Egito Antigo, o que não comprometeu sua audiência,
pelo contrário, só a fez crescer. Do ponto de vista comercial, foi um feito
louvável. Por outro lado, dramaturgicamente, a trama não apresentou inovações
_e nem podia, visto que é engessada dentro do original da Bíblia.
É digno de nota o esforço da direção, leia-se Alexandre
Avancini, em levar ao público uma trama atraente. Para envolver os
telespectadores, a edição usou e abusou de um dos recursos mais inerentes às
telenovelas: a reiteração. Através de flashbacks, Os Dez Mandamentos encontrou
material para sustentar a falta de ter o que mostrar.
Na cena da abertura do Mar Vermelho, que fez com a história
atingisse seu recorde de audiência e deixasse a Globo afogando no Ibope, a
demora para mostrar as águas se dividindo e a caminhada do povo hebreu foi
tamanha que daria tempo de abrir um oceano inteiro. O festival de closes nos
rostos do elenco só fez notar quão exaustos todos estavam _Guilherme Winter
(Moisés), bom ator, é o melhor exemplo. Seguramente, o cansaço não era obra da
travessia.
Caras e bocas também não faltaram na sequência em que a
personagem Eliseba (Gabriela Durlo) foi ferida, o que só exacerba o caráter
melodramático da novela. O dramalhão se estendeu, com cenas longuíssimas, em
que personagens derramavam lágrimas uns sobre os outros.
Cenas de batalha em câmera lenta deram o tom exato da
necessidade de se esticar uma história que respira por ajuda de aparelhos. No
caso, os aparelhos de edição.
Exageros linguísticos à parte, Os Dez Mandamentos representa
um ganho e ao mesmo tempo um desafio para a Record: a audiência conquistada _e
aqui não só os números, mas a abrangência do público geral_ foi um marco para a
emissora e precisa ser mantida. Foi acertada a ideia de criar uma “faixa
bíblica” para o horário, mas completamente descabida a alternativa encontrada,
a de reprisar a minissérie Rei Davi.
A bem da verdade, a melhor serventia da reprise foi a de
comparativo entre uma produção e outra. Embora o texto de Vivian de Oliveira
tenha sofrido pouca evolução, a qualidade da direção e da produção de Os Dez
Mandamentos teve um salto evidente.
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