“Uma guerra sem tiros.” A definição que o escritor inglês George
Orwell deu para as competições esportivas, em artigo de dezembro de
1945, estava longe de ser uma exaltação, embora tivesse a desculpa de
trazer bem fresca a memória da maior de todas as guerras reais. Também
não se referia exclusivamente ao futebol, mas é em tal contexto – e
frequentemente em tom positivo – que costuma ser lembrada.
Faz sentido. Não é à toa que o vocabulário bélico perpassa o do
futebol, como se vê de maneira óbvia no “artilheiro” e, de forma menos
evidente, no “zagueiro”. Esta é a curiosidade etimológica de hoje,
inspirada pela façanha dos brasileiros David Luiz e, principalmente,
Thiago Silva (foto), do francês Paris Saint-German, no empate
fora de casa que eliminou a equipe inglesa do Chelsea da Liga dos
Campeões.
Fomos buscar “zagueiro” no espanhol zaguero, o que torna a
palavra uma exceção num universo de termos que em sua maioria foram
importados, como o próprio futebol, da Inglaterra. Foi, aliás, o
anglicismo “beque” – de back, “parte de trás” – que o espanholismo terminou por substituir na preferência nacional.
Segundo o filólogo catalão Joan Corominas, zaga é um termo oriundo, ainda no século XII, do árabe sáqa
(“retaguarda de um exército ou um rebanho”). Tinha, a princípio, duas
acepções no idioma de Lionel Messi: parte traseira de qualquer coisa e,
na linguagem militar, o pelotão mais recuado de uma tropa.
Evidentemente, foi tomando esta última acepção como metáfora que o jargão esportivo do século XX nomeou a zaga e o zagueiro.
Por Sergio Rodrigues/ Sobre Palavras
Nenhum comentário:
Postar um comentário