O PT, na oposição, se dizia diferente dos demais partidos. No governo, mostrou não era: era igual no que eles tinham de pior
Lula, entre outras façanhas, recolocou as Forças Armadas na agenda
política do país. Ao convocar o “exército do Stédile”, o MST, para ir às
ruas e derrotar os que se opõem ao PT – 93% da população, segundo
pesquisa em mãos do Planalto -, deu a senha para que se justifique a
presença militar na cena pública.
Felizmente, tal não ocorreu. Os militares sabem distinguir bravata de
realidade. O “exército do Stédile” paga R$ 35 por soldado, fornece
transporte em ônibus alugados com verba do imposto sindical e mais um
farnel de sanduíche de mortadela.
Não foi suficiente para reunir mais que sete ou dez mil “soldados” na
avenida Paulista. Mas Stédile avisa: “Engraxem as chuteiras, pois o jogo
apenas começou”. Que jogo? Com esse time, não se chega nem à quinta
divisão.
O PT, na verdade, está apavorado. Se apenas 7% do país apoiam o governo
Dilma, estamos diante de uma de duas hipóteses: ou a burguesia aumentou
o seu tamanho – e é a maior do planeta – ou o partido perdeu sua massa
de manobra.
O que restou ao PT foi a militância paga, o “povo profissional”, que se
manifesta em dias de semana porque não trabalha. A conivência do
governo federal é óbvia. Quando os caminhoneiros fecharam as estradas,
mandou a Guarda Nacional reprimi-los; quando o MST fez o mesmo, não
mandou ninguém.
Enquanto os caminhoneiros protestavam contra o aumento do diesel – que é
vendido mais barato no Paraguai, que o importa de nós -, o MST
protestava contra a burguesia e o imperialismo. Aos caminhoneiros, foi
aplicada a multa de R$ 10 mil por dia de paralisação; ao MST, foi
fornecida a remuneração acima.
O roubo não é um componente ideológico. Não é de esquerda, nem de
direita: é simplesmente um crime, capitulado nos códigos penais de
países “de esquerda” e “de direita”. A população, em sua esmagadora
maioria, nem sabe o que são esses conceitos. Mas sabe muito bem o que é
embromação, malandragem – e sabe distinguir bem a retórica do mentiroso.
Sabe constatar gestos de cara de pau, quando, por exemplo, os
predadores da Petrobras convocam um ato em defesa da empresa que eles
mesmos liquidaram. Quando Lula, no ato da ABI, em que convocou o
“exército do Stédile”, diz que “a Petrobras é nossa”, está sendo sincero
pelo avesso. Comete um ato falho, sem o perceber. A frase embute uma
confissão, que explica o que a CPI está apurando na Câmara dos
Deputados.
O PT, na oposição, se dizia diferente dos demais partidos. No governo,
mostrou não era: era igual no que eles tinham de pior. É hoje aliado dos
que, no passado, classificava de ladrões. Hoje, diante do Petrolão, um
escândalo sem precedentes, se esforça para mostrar que é igual a todos,
que apenas deu sequência a uma prática já instalada. Com isso, piora o
que já é ruim.
Quando alguém se defende de um ilícito com o argumento de que outros
também o praticaram, não está propriamente se proclamando inocente.
Quando esse alguém é governo, acrescenta ao delito de que é acusado
outro: o de prevaricação.
Se seu predecessor, de fato, delinquiu, e ele, 13 anos depois, o
revela, sem ter tomado qualquer providência punitiva, é, no mínimo,
cúmplice por omissão.
São contradições como essas, que o desespero produz, que, por acúmulo,
levaram à insatisfação popular expressa na última pesquisa. A
manifestação de amanhã, aguardada com imensa expectativa, não pertence a
nenhum dos partidos de oposição, embora seja legítimo que estes a ela
se associem.
Mas, entre seus recados explícitos, está a decretação não apenas da
falência moral do PT e do governo, mas de todo o sistema político que os
viabilizou. A oposição tem que olhar com humildade e autocrítica este
momento, se pretende a ele sobreviver. E o PT deve começar a
providenciar a operação-retirada, ainda que permaneça figurativamente no
governo.
Não se governa com 7%. Nesses termos, é preciso baixar a crista e
buscar socorro político enquanto é tempo. E o socorro político hoje não
está na Praça dos Três Poderes, mas na sociedade, que exige novos rumos
(e novos governantes) para o país. Esse o recado das ruas, que
assistiremos neste domingo.
Por Ruy Fabiano
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